top of page
Imagem4.png
Foto do escritorFelipe Anderson

O Sorridente Zumbi

Atualizado: 29 de jan. de 2024


O Sorridente Zumbi - FAZ

Que coisa boba, era outra semana comum, mas algo mudou tudo, zumbificou o mundo! Até que não posso reclamar, sempre fui meio mudo, mas agora piorou, todos estão cegos e surdos! Quando voltei confirmei, poucos ainda ouvem, alguns ainda falam, grunhidos e grunhidos, berros e resmungos. Uns comem cérebro, outros devem comer alface e insetos!


Qual graça tem, na rua ninguém mais joga bola, tão pouco na escola, podia também ser outra brincadeira, mas não se pode mais brincar, nem histórias contar! Amar para quê? É mais fácil fingir, e dizer que amor tem para dar e vender; nem abraçar, nem brigar, nem pensar, deixa aqui o jornal te explicar, o que será o dia de amanhã, para você se planejar!


Wow! Fui ali, quando voltei todo mundo era zumbi! Fui pegar um ar, sentar e ver o vazio, pensar e refletir, se era loucura ou realmente ninguém mais estava ali. Não sei ao certo que dia tudo começou, até agora posso afirmar que um sobrevivente eu sou! Estou na minha à deriva, vivendo lembrando de mil anos atrás, o resto do mundo aqui zumbi, já suas almas foram lá para Alcatraz.


Wi-fi conectou, ufa-ufa, mais um filme baixou, mais um like ganhou, mais um amigo encontrou! Mas mesmo assim, ainda me preocupo, parece pandemia de fim do mundo, já houve muitas catástrofes por aí, guerras e desastres, anos atrás, antes de mim! Parem as máquinas, industriais, tecnológicas e agrícolas, nem mesmo criem nada, senhores artistas, afinal para que tudo isso, se ninguém mais tem vida?


E agora, quem poderá me ajudar? Se um meteoro for cair, uma bomba nuclear explodir, um vírus devastador se expandir, tanto faz, no final todos vão sorrir e selfie-se quem puder! Passam todos direto mesmo, uns xingam, reclamam, ou passam mesmo reto, em direção a outros cérebros, que sejam célebres, poderosos, melhor assim, contaminam eles e não a mim!


Estão agora, todos pálidos, no começo fiquei com medo, mas eu passo e ninguém me vê mesmo; devo ser imune, pois meu bolso está sem dinheiro, não tenho cheiro de gente famosa, nem me comporto como interesseiro, para que alguém comeria o cérebro de alguém assim, acho que seria um tanto traiçoeiro, enfim!


Relógio parou, quanto tempo será que demorei? Mas, saí só e voltei, quando fui ver não tinha mais ninguém, ainda vejo todos verdes, conectados, fazem cara estranha, mostram os dentes, mas sem realmente estarem sorridentes, bicos e bocas, devem estar com fome, vou me esconder, não quero ser o prato de toda essa gente!


Rápido correrei, tanta coisa estranha acontecendo, sendo feita, para uma espécie que diz que pensa, que pensa - que pensa. Mas nesse momento me preocupo mais, pois me parecia que todos estavam bem - agora não estão mais acontecendo nessa existência!


Todos têm razão, mas ninguém aceita opinião, todos tem cultura e lazer, mas todos fazem mais grunhidos quando não há muita coisa para fazer, sem fazer coisa alguma, nessa geração sem produção, copiam e compartilham, sem nem saber a procedência, não sabem nem rabiscar a parede, questionam o tédio, o ócio, e no fim ficam em depressão, mas será mesmo que tanto dela assim existe e a medicina tem toda essa razão?


Todo o mundo está estranho, todo mundo estranho está, estão esperando o quê? Outro zumbi ditador o mundo conquistar? Não reagem a estímulos, só aos que lhes convém, não reclamam da fome do mundo, mas ai-de-quem lhe perturbar o almoço, o resto de comida está lá na lixeira, enterrada no fundo do poço!


Yakisoba chegou, meu pedido mais uma vez funcionou, antes era um bom jantar, todos juntos em volta da mesa, agora é fast-food, todos apertando os botões para pedir comida chinesa! Mas claro, continuamos iguais, o que mudou um pouco é que voltamos a ser canibais, dividíamos o prato e comíamos o necessário, agora todo mundo separado - jantando petrificado em frente ao noticiário!


Yoga tem que fazer, se esticar e meditar, transcender e pensar, e é essa parte final que eu sei fazer, fico pensando... Será que foi algo na comida, talvez um pesticida, algo transgênico, ou o mundo mesmo que está tão estranhamente higiênico! Acho que vão colocar de novo a culpa em Chimpanzés, sei lá o que eles podem ter feito, mas deixou toda a humanidade com defeito, da cabeça aos pés!


Um dia também acreditei, nisso tudo - de bicho ou de coisa, que mata ou deixa burro, mosquito, rádio, televisão, jornal, comida, bebida, oxigênio, inseticida; atualmente já não sei, mas que todo mundo está bem diferente, isso sim - eu sei. Posso afirmar, e aqueles que ainda não foram mordidos vão concordar! Já os que foram, só me resta rezar, vou aqui com fé, esperando para ver quem consegue acordar!


Uma calamidade, e não é só aqui no meu bairro, é o mundo inteiro que ficou assim, bebês nascendo já sedentários! Também não respondem a estímulos, mas adoram brincar no celular desde o berçário! Pois é, eu sobrevivia assim até outro dia, nesse ataque zumbi, acho que lá vou eu também, estou vendo aqui uma mensagem chegar, se esse é meu destino, vou fazer o quê? Chorar? Prefiro reclamar!


Inteligência, é isso que precisamos, chamem mais especialistas, se alguém no mundo sobreviveu, por favor, examine minha vista, pode também não ser meus olhos, pode ser loucura minha, mas por que afinal, todo mundo agora deu para ser tão individualista?


Ih! Me mordeu!


O que começou tudo isso? Mas para evitar mais danos ao mundo, vou desconectar por hoje, foi tanta proximidade eu acho, que nos deixou tão longe, em ilhas do fim do mundo!


Oh! Volta aqui!


Parou, voltou, mas pode prosseguir zumbi, pode seguir em frente, não era nada não, só mais uma infestação, burrice coletiva, a humanidade já morreu mesmo antes, naquelas chaminés arianas de purificação! Mas deixa eu aqui, nadando contra a corrente, se a natureza quis assim, você ser assim, ela também me fez assim, estranhamente diferente!


Pense bem, se no final, o importante não é sermos contentes, agradecer - namastê, acreditar e assim sejamos, um tanto zumbis, porém sorridentes!



O SORRIDENTE ZUMBI

Felipe Anderson (2016)



CONTATO PARA ADAPTAÇÕES E LICENCIAMENTOS

Para parcerias ou adaptações dos conteúdos aqui representado nos contate:


TERMOS E CONDIÇÕES DE USO

*Os personagens, histórias ou temas são originais - criados e concebidos por seu autor, a exploração financeira indevida direta ou indireta desse conteúdo resulta em crime de direitos autorais.


O TROPICAL

Arte e Cultura



(CURTAM E COMPARTILHEM A PÁGINA E OS CONTEÚDOS)

Posts recentes

Ver tudo

Falar!

A Zika Negra

Comments

Rated 0 out of 5 stars.
No ratings yet

Add a rating

Obrigado pelo Envio!

bottom of page