Cerejeiras ao vento. Um frio vento de outono, o mestre Dõraku desperta de seu sono consumido pela angústia. Um Samurai em busca de vingança e em busca de rever quem foi lhe roubada. Vingança em nome do amor e ódio contra a dor!
I----------------------------------------------------------------------------------------------------
Sol nascente no lado oriente, dor poente ao lado esquerdo do peito. O guerreiro a cada manhã busca sem fim um meio, para dar fim ao seu sofrimento, e ao grande oponente dos mares, o dragão devorador vermelho!
II---------------------------------------------------------------------------------------------------
Dõraku lembra de sua amada ao refletir seu rosto sobre as águas. A Carpa Dragão dessa mesma forma um dia surgiu das águas e levou sua hábil gueixa ao fundo do mar!
III--------------------------------------------------------------------------------------------------
Noite e dia passaram, estações, diante dos olhos do Samurai, e suas batalhas eram carnificinas brutais, seu ódio lhe mantinha invencível, seu olhar vingador era irredutível, sua katana - uma fina navalha furiosa, que honrava o coração desse guerreiro fantasma!
IV--------------------------------------------------------------------------------------------------
Ele sentia que a carpa ainda o espreitava sobre as águas. Sua saga iria ter início com velas e tábuas, sua rota estava traçada. Acreditou e levantou, em seu plano buscava a vingança e a honra. Iria então, até o fim do mundo, com sua lâmina e sua esperança, embarcado em uma sampana.
V---------------------------------------------------------------------------------------------------
Velas sobre as rotas dos ventos - buscava em cada peixe e em cada fera dos mares seu algoz. Buscava também sobre o brilho do sol sua amada devorada. De repente sobre as marés da tarde - em fúria sai do mar o peixe - seu oponente, a Carpa Dragão, um salto sobre a embarcação. O Samurai cai sobre a água, mas nem sua espada, nem suas adagas alcançam a carpa, ele nunca esteve tão perto - e agora com medo!
VI--------------------------------------------------------------------------------------------------
O tempo se contraí, as nuvens preferem fechar o sol - o sol prefere não ver o desfecho dessa batalha. Apenas os trovões, as águas do céu e as ondas do mar participam. Todos brigam contra todos - contra os peixes e contra a sampana do guerreiro Samurai, em meio a tempestade o peixe se ergue, bate como pode para virar aquele barco.
VII-------------------------------------------------------------------------------------------------
Então ele consegue, a sampana vira, mas o samurai não desiste - luta. Suas lâminas além de enfrentarem o peixe, sofrem a resistência da água. De volta ao barco o Samurai é desacordado por um remo solto em mar revolto. Em meio ao tempo, lá se vai o barco levado pelos ventos.
VIII------------------------------------------------------------------------------------------------
O Samurai acorda longe de sua casa - abre os olhos diante de uma mata densa, nada até a beira da praia, adentra no litoral e na mata; sabe ele apenas de suas dores, sua fome, de sua derrota para o peixe assassino. Olha para sua katana e se sente ofendido pela fraqueza de sua lâmina que nada pôde fazer contra a força do peixe e a invencibilidade do mar!
IX--------------------------------------------------------------------------------------------------
Sua armadura Samurai pesa sobre seu corpo, e sua fragilidade pesa em sua alma; ele logo é recebido por outros guerreiros, altos, fortes, resistentes, diferentes e notando o intruso de outros mares, assim mesmo recebem um viajante cansado. Oferecem-lhe comida e bebida, restituem sua força, lhe mostram as estrelas desse céu, e as raízes dessa terra.
X---------------------------------------------------------------------------------------------------
Dõraku se alimenta de peixes frescos, viventes destes rios; empunha sua espada sobre as pernas, enquanto a fogueira incendeia a escuridão da noite. Disposto a arrumar seu barco e voltar para casa, ele acorda cedo, bem alimentado, com seu espírito renovado - um último adeus aos nativos de rostos adornados por madeiras e argolas, sobre seus ouvidos e lábios!
XI--------------------------------------------------------------------------------------------------
Não há o que se dizer, apenas um adeus como se pode dizer!
- Sayõnara!
- Kia Koa!
O guerreiro samurai ajoelha e deixa sua espada!
XII-------------------------------------------------------------------------------------------------
O índio nativo, guerreiro Maori, aceita de bom grado e lhe entrega seu arco e suas flechas!
XIII------------------------------------------------------------------------------------------------
De volta ao mar, a jornada ao retorno, desse lado o sol nasce e mostra sua face para que o viajante saiba o sentido a se seguir! Lá se vai o sobrevivente da Carpa Dragão!
XIV------------------------------------------------------------------------------------------------
Com algumas iscas e peixes pescados o tempo se vai para esse Samurai, as turbulências já não lhe causam medo, mas ele sente o temor que não lhe deixa há tempos! Volta por sobre seus pés a sombra vermelha, em círculos cerca as tábuas de seu barco, as aves surgem junto, provando a si que há terra firme no feixe horizontal do mundo!
XV------------------------------------------------------------------------------------------------
O peixe, o ar, o salto, o Samurai e a flecha, o arco esticado, a mira é certa, ponta fina acerta a pele grossa, bate no meio e fura o peito, o mar trepida sobre a queda do peixe guerreiro!
XVI------------------------------------------------------------------------------------------------
O Samurai acertou com sua nova arma o velho inimigo, mas sem triunfar ou descansar, logo salta ao mar, hora de finalizar, o que nunca parecia acabar!
XVII-----------------------------------------------------------------------------------------------
Salta então para dentro da água com suas duas adagas, o peixe ainda vive, com sua forma colossal engole o samurai real. Por fim o golpe final, uma adaga abre o peixe por dentro e a outra segue a flecha e se finca no peito!
XVIII----------------------------------------------------------------------------------------------
Dõraku já sem ar, busca no resto de vida desse Dragão Vermelho dos mares, os restos de sua amada, mas não há ali mais nada, apenas um sútil tecido, que lhe traz por segundos a pele de sua gueixa roubada!
XIX------------------------------------------------------------------------------------------------
O mar segue calmo, num fim de tarde. O peixe sem vida ao fundo, o Samurai vingado afunda, os dois espíritos libertos da fome e da fúria!
XX------------------------------------------------------------------------------------------------
O Samurai e a Carpa, ao fundo e ao alto, agora juntos - unificados!
Seven Samurai
Ryuichi Sakamoto Trio
O SAMURAI E A CARPA
Felipe Anderson (2016)
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