Ao início praquejou para si:
- É fraqueza gritar, é grosseiro xingar; não devo mentir; é proibido matar! É absurdo explodir, é insano surtar, é fraqueza chorar, é tolice esperar; não posso brigar, não consigo falar.
Eu estou onde eu queria estar, neste estreito, entre as letras. No istmo, entre as palavras e o mar.
Ele se desmancha, finge que não tem nada para falar. Francisco se esconde, no canto da sala, sobressalta da cadeira, mas jura estar com seus batimentos em dia.
Sua mente é sóbria, seu corpo esguio, retílineo como um cipestre. Sabe sofrer, sem se perceber; não fala por que não sabe mais por onde começar. Prefere entalhar. A madeira adornar; riscos, gravuras e ranhuras, a arte encontra conjecturas. Assim o artesão respira, e naquilo que sobra de dia, se silencia. Sua dor te inspira; nos confunde com sabedoria.
É difícil se encontrar um sujeito assim, caído sobre o arbusto, sem hora marcada, sem deixar recado. Tropeçou quando se lembrou, do que havia há muito esquecido, se negou a rememorar; sobre o ar, catapultou.
Recolheram com cuidado um corpo desmontado. Não sabem se o peito ficou desritmado, se só foi um tombo azarado. O homem tinha calos, cabelos pretos-grisalhos, dedos desconjuntados, óculos engrenhado, terno amassado, um passado desafuturado.
Deixou de dizer, fez o que não podia fazer, pensou o que não devia pensar, tudo para não falar. Os fios se soltaram, uma ponte se rompeu no meio do seu coração. A memória queria ser lembrada.
Quem traça caminho no céu, faz sombra na terra. Um bom brilho na alma, que acalma. Era só cavar de novo o rio do que jaz esquecido e deixar a água voltar a passar.
Quando cava acha. O que perdeu ficou; o que não conquistou, o que não volta-doeu, o que não queria-sentia, calcificou. O que o enfarto fulminou, bem o que não desenterrou.
Era só dizer. Chico sentiu o que não devia. Calou por que queria. Não fez tanto mais por que não podia; se pudesse escreveria, se eu pudesse te ouviria.
Agora escrevo, que é o melhor que sei fazer, e que mal sei fazer. Mas o resto eu já disse, que não se deve fazer. Histórias, indivíduos a ser; o ruim é partir e de tudo, o pior, é não mais sentir. O corpo parar, mimetizar.
Por isso deixe o rio fluir.
Inspire o ar. Respirar.
Confiar.
Falar!
FALAR!
Felipe Anderson (2023)
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